24.6.09

elementos da tradição

condestabre
Neste dia, em 1360, nascia um menino a quem mestre Tomás prodigalizou um futuro à altura do relato das mitologias da cavalaria medieval. Jovem armado cavaleiro pela rainha (Leonor), frequentou a corte e seu pai, o prior do Crato (Hospital) de boa memória filial prometeu-o a uma nobre do Norte, com quem gerou o ramo «sacerdotal» da Casa de Bragança; Vila Viçosa seria o berço do culto da Ordem do Carmo, onde o precursor «entrega» o reino ao Mestre João, de Aviz, em detrimento dos interesses de outros filhos do velho Prior que militavam a respeitável Ordem de Santiago (de Castela), (embora) herdeiros da Espada mítica dos Templários e do Fundador.
Mas o reino e o condestável viviam numa torrente de energias positivas que já vinham de Afonso Henriques e que Coimbra manifestava pela sentença que fez o Mestre aceitar o trono contra ventos e marés... O Rei, o boa memória da ínclita geração (11.04.1357) simboliza o fogo que complementa o batismo dos cavaleiros e monges da Távola Redonda ou os mestres dos templos futuros dos navegadores e missionários – preservando ao mesmo tempo a privacidade dos autóctones e o estabelecimento da comunicação entre culturas antagónicas do ponto de vista do eixo das particularidades de cada uma. É o eixo dos equinócios, do nascimento e desmaio das dores da Virgem a apanhar cereal num campo de moura encantada e tradição...

O movimento da natureza é duplo (ascendente – Trópico de Capricórnio, e descendente – Trópico de Câncer) na quadratura do ciclo dos ritos anuais, mas o universo é uno com o espírito do ser humano, que, segundo a tradição ocidental nasceu da pedrada de Cadmo ou dos meandros e esconderijos de um labirinto galático. O Oriente é outro enigma, um mistério que deveria estar 'presente' na carta natal do modelo de cavaleiro e monge medieval de que descende o herói e santo português de eleição divina como Afonso Henriques ou o Prior (do centro) da Santa Cruz ou talvez algum pastor à pedrada aos invasores da propriedade (jardim à beira-mar plantado nos campos megalíticos da mitologia lusitana e da tradição que veio dos francos, e antes de muitos outros povos que banquetearam o caldeirão de cultura viva do último labirinto antes do advento do império). Este é um dos mitos fundadores da questa a embalar o Velho do Restelo em direção ao norte da sua mente duplex, dividida ente os hemisférios – oriente e ocidente. Só quando ele diluir essa clivagem poderá percorrer pelos cinco oceanos a rota do fado das figuras ilustres da ínclita familia lusitana: santos, poetas e heróis. O Velho é o saudoso do passado (ou futuro) que lança desafios e aviva memórias, mas também o devoto fiel à vox populi – com que se escreve a história mátria.
D. Nuno cumpriu o preceito da ação sobre a palavra dada pela rainha e madrinha do batismo de fogo. É um ídolo nacional, um mito medieval que tem sempre leitura no presente e futuro da história da nação lusitana. O seu elemento é Água com signo em Caranguejo e o seu temperamento linfático equilibrado pelo heroísmo e a contemplação. Mas estes sentimentais (Água: Peixes, Câncer e Escorpião) também dão homens de génio construtores de impérios e taumaturgos que aliviam as dores dos que sofrem, através da sua palavra e das ações de caridade que praticam por entre os hospitais em contacto com os que sofrem pela dissolução do ego ou de um desgosto que chega do mar ou de outra desgraça qualquer.

Nun’Álvares Pereira

Que auréola te cerca?
É a espada que, volteando,
Faz que o ar alto perca
Seu azul negro e brando.

Mas que espada é que, erguida,
Faz esse halo no céu?
É Excalibur, a ungida,
Que o Rei Artur te deu.

‘Sperança consumada,
S. Portugal sem ser,
Ergue a luz da tua espada
Para a estrada se ver
.

Fernando Pessoa, Mensagem

O seu complemento «natural» (fogo cardinal) (Fogo: Carneiro, Leão e Sagitário) foi D. João I (11.04) que, com o fogo da Primavera e da sua espada fundou uma dinastia que acabou em Alcácer Quibir. Mesmo assim, passámos do ciclo do mar para o do eldorado e continuámos república adentro com o espírito que santifica esta terra da Santa Maria, onde os templários outrora se tinham tornado cavaleiros da Ordem de Cristo pela argúcia de um Lavrador que plantara o pinhal de Leiria e as naus a mexer em direção ao outro lado dele mesmo e do nosso destino de povo universalista.


idade nacional
Ainda neste dia, e nos primórdios da nacionalidade, a 24 de Junho de 1128, teve lugar a famosa Batalha de S. Mamede, entre as tropas do príncipe Afonso Henriques e as de sua mãe, que queria anexar o Condado Portucalense à Galiza. Da luta entre os dois elementos, o fogo do guerreiro e a natureza dissoluta da mãe, sairia vitorioso o futuro rei de Portugal e a Pátria de Camões, que cantou n'Os Lusíadas (III, 30-33) esse ato de bravura e de independência do jovem príncipe, que, naquela na tarde do dia de celebração da festa de S. João , fez nascer os destinos de uma nação:

Mas o Príncipe Afonso, que desta arte
Se chamava, do avô tomando o nome,
Vendo-se em suas terras não ter parte,
Que a mãe, com seu marido, as manda e come,
Fervendo-lhe no peito o duro Marte,
Imagina consigo como as tome.
Revolvidas as causas no conceito,
Ao propósito firme segue o efeito.

De Guimarães o campo se tingia
Co'o sangue próprio da intestina guerra,
Onde a mãe, que tão pouco o parecia,
A seu filho negava o amor e a terra.
Com ele posta em campo já se via;
E não vê a soberba o muito que erra
Contra Deus, contra o maternal amor;
Mas nela o sensual era maior.

Ó Progne crua! ó mágica Medeia!
Se em vossos próprios filhos vos vingais
Da maldade dos pais, da culpa alheia,
Olhai que inda Teresa peca mais:
Incontinência má, cobiça feia,
São as causas deste erro principais:
Cila, por uma, mata o velho pai,
Esta, por ambas, contra o filho vai.

Mas já o Príncipe claro o vencimento
Do padrasto e da iníqua mãe levava;
Já lhe obedece a terra num momento,
Que primeiro contra ele pelejava.
Porém, vencido de ira o entendimento,
A mãe em ferros ásperos atava;
Mas de Deus foi vingada em tempo breve:
Tanta veneração aos pais se deve
!


fogo e água
A Igreja Católica celebra neste dia a festa litúrgica de S. João Batista, o precursor de Cristo.
Esta festa acontece no início da entrada do Sol na constelação do Câncer (signo zodiacal Caranguejo, Água), que marca o solstício de Verão. A celebração desta data é muito antiga, sendo outrora esse dia (data) dedicado, na mitologia de vários povos, ao culto do Sol, como o imperador Heliogábalo ou um deus do panteão da mente oriental, mas também ao herói que sai vencedor da sua luta interior ao alcançar a liberdade de mover-se pela senda da sua dupla natureza: herói e santo (no oriente e ocidente) - fogo e água.

O Verão está associado, tradicionalmente, ao fogo e à cor vermelha do fulgor das mitologias e lendas; o fogo do Sol transforma-se na energia que amadurece as searas e nos aquece nas noites mais orvalhadas da época, sendo típico (em algumas desses festejos) saltar fogueiras, cantando:

Fogo no sargaço,
saúde no meu braço
!

Fogo na giesta,
saúde na minha testa
!

Fogo no afeito,
saúde no meu peito
!

A água (quem diz água, diz vinho), por seu lado, também está associada à festa de S. João (e ao signo do Caranguejo), e é o elemento talvez mais significativo a nível simbólico e ritual, já que é através da rega que se evita que o calor do sol estiole as plantas, ao mesmo tempo que as faz crescer e amadurecer para a colheita da estação seguinte.
A água encontra-se presente no relato bíblico de Cristo a ser batizado por João (e nas Bodas de Canã), com o significado de uma energia transcendente de estado do ser humano, e no folclore sob vários aspetos, mas sempre com a virtude miraculosa de transformação das qualidades daquilo que toca, uma vez que se crê que adquire nessa noite (23 de Junho), a capacidade de purificar (água benta) tudo o que entra em contacto com ela.

21.6.09

corrida aos saltos

De vez em quando aparece cada uma que é de bradar.
Agora, juntam-se cerca de uma centena de mulheres para correrem de salto alto... o que é um contra-senso à medida dos tempos que correm. Não entrarei em questões anatómicas, mas o que mete mais espécie é haver tanta gente a entrar nestes «grupos» – reflexo do desnorte (e da mania do que o que é «diferente», é (que é) bom, «original, inédito»...) que se vive nesta era complicada do Aquário... Está-se mesmo a ver a mediania a dirigir-se às sapatarias à procura de sapatos de salto alto... para treinarem para a próxima competição, e para aparecerem nos me(r)dia. :) Se calhar, para algumas, o salto é crescimento ou ascensão social, mas nada ensinam sobre a pedra no sapato, ou será o seu exemplo pacífico de manifestação como as maratonas e outras tonas a seguir à deriva para satirizar - o quê? As meretrizes dos palcos capitais do ioga de estrada e desbunda notívaga dos bairros persas?
O espetáculo também se consegue com ergonomia social e fantasia; embora não sejam estranhas as formas de se manifestar em casos concretos de vernissage, a socialite convive intramuros em vez de estarem a divertir o agiota do cais que antes de partir a loiça, partiu na nova rota para dar o salto... para o alto. É a marca do fado que tem cada pessoa por ser fadada a encontrar o caminho da águia joanina, ou continuar o ritual do peixe, empreendedorismo especulativo, ou improvisando verdadeiras manifestações de criatividade? – artistíca, profética, poética ou estratégica... em momento de crise aos trambulhões... a que só falta as tiranias do oriente extremo, criado pelos ares de uma longa e atribulada história... ou teremos que hipotecar de novo a pátria de Camões? O tipo destas manifestações sectárias sob a égide do desporto não ajuda muito, mas já são um sinal de que estamos vivos e a exercitar o corpo no manifesto do novo Bandarra para a new age – ou para o ciclo aquariano do recém-nascido mito da portugraalidade futura.


(Para quando uma corrida, pelas ruas de uma metrópole qualquer, com as intervenientes a correrem todos nus? Já agora... (até era mais «ergonómico» e tudo!).
Um dos nossos trunfos vai ser a capacidade, chamada talento de bem fazer, de recriar o mundo que cada um tem para si e para os outros de forma harmónica e fraternal, cordial e comuniticativa, mesmo perante situações ridículas ou tragédias anunciadas como as que diariamente são despejadas na galáxia da (contra-)informação.
Para dar o salto ainda falta comer muito sal ou chorar as lágrimas – como a chuva que vem do alto? É tempo de outros voos aqui na terra! Outro atributo necessário é a arte, o virtuosismo do bom desempenho e representação nos palcos das aldeias perdidas num labirinto de contradições entre o exercício do verbo e a e a (sic) sua expressão real... no mundo global a caminho da nova industrialização, por vezes sem engenho, de nível planetário. Para remar contra mares revoltos é preciso vontade, virtude e sangue frio – a vitória da tenacidade e esperança sobre o medo e a auto-comiseração castradora de desfiles exóticos de poder imaginário para as massas, moldáveis às mãos do verdadeiro líder. Mas também é preciso inventiva, recriar o mito e projetar a realidade para além da visão quadrada de uma qualquer calçada (com ou sem salto alto).

tempus fugit

No Ocidente, a passagem do tempo «natural» é marcada pelo ciclo das quatro estações do ano, com as suas particularidades inerentes ao clima e aos trabalhos específicos no labor do universo, do homem e da natureza. O início de cada uma dessas estações é conhecido por equinócio (Primavera e Outono) e solstício (Verão e Inverno) e coincide com o começo da duração de um período que atravessa três signos zodiacais (sensivelmente três meses no ciclo anual). Haveria muitas analogias a fazer com este ciclo (na dinâmica do universo, na transformação do corpo humano e nos trabalhos do campo), mas isso fica para outra altura.

Primavera
Começa, tradicionalmente, no signo do Carneiro (por volta de 21/22 de Março a 21/22 Abril) e estende-se pelo Touro e Gémeos; está associada ao elemento Terra e à cor negra (o escuro, de onde vai brotar o novo ser, cuja semente foi «lançada à terra» na estação precedente, e vai atingir a maturação no Verão, para depois os seus frutos serem colhidos durante o Outono). No mundo cristão e no mundo judaico a festa sassociada a esta estação é a Páscoa. É o nascimento da vida das aves ou o eclodir de um projeto na infância.
Temperamento melancólico.

Verão
O Verão inicia-se com o signo do Caranguejo (por volta de 21/22 de Junho a cerca de 21/22 de Julho), estendendo-se pelo Leão e pela Virgem, e marca ascenção do Sol cuja energia, emanada pelos raios, vai amadurecer as colheitas a serem feitas na estação seguinte. Está relacionado com o Fogo e a sua cor é o vermelho. Em Portugal, a festa associada ao Verão é o S. João.
Temperamento colérico (no seu pior). Juventude.

Outono
Estação que começa com a entrada do Sol na constelação da Balança (Libra, por volta de 21/22 de Setembro a 21/22 de Outubro), percorrendo de seguida o Escorpião e o Sagitário. O Outono é a altura de se fazerem as colheitas e providenciar o acondicionamento dos produtos, que irão servir para matar a fome durante o tempo inóspito do Inverno. Está relacionada com o Ar e a sua cor é o azul. Esta estação é a menos representativa da comemoração festiva da Igreja Católica; neste período há várias festas (Nossa Senhora do Rosário, S. Martinho, etc.), mas a mais representativa é, talvez, o dia de Todos os Santos.
Temperamento sanguíneo (ou nervoso). Idade adulta.

Inverno
Depois de ceifadas as searas e armazenados e conservados os alimentos para enfrentar a estação seguinte, o Inverno, marcado pelo início do signo do Capricórnio (de 21/22 de Dezembro a 21/22 de Janeiro), o sol percorre de seguida o Aquário e os Peixes. Este é o tempo de arar e amanhar as terras para se lhes jogar as sementes, que irão eclodir em rebentos na Primavera. A festa católica de referência na liturgia é o Natal. Está associada ao elemento Água e à cor verde.
Temperamento linfático (fleumático). Velhice.

A estação que agora principia, O Verão está associada ao Fogo (o conquistador), passa por três signos (como as outras), que são o Caranguejo (água/fogo), o Leão (fogo/ar) e a Virgem (terra/fogo). Três atributos relacionados com a qualidade dos signos: cardeal, fixo e mutável que revelam diversas maneiras de brincar com o fogo. No entanto, no lugar de descrever cada uma dessas matizes duais, e de deixarmos de lado os labores da roda do destino (tarô), centremo-nos nos signos de Fogo em si: Leão, Sagitário e Carneiro. (É possível que daqui a uns tempos, depois da roda oleada, que o Verão comece com o signo representativo do elemento Fogo: o Leão - isto porque com a predecessão dos equinócios o eixo da terra tende a colocar-se de acordo com o diapasão da harmonia universal da Era de que acabámos de descolar (ou de aterrar, para outros) .

17.6.09

tempArar


O tempo começa a aquecer e as desejadas férias estão à porta.
É tempo para descansar e, sobretudo, abandonar hábitos «inconscientes» de vida rotineira, que nos vão alienando no dia-a-dia, tornando-nos como que autómatos de uma existência anódina e aparentemente sem ou com pouco sentido. É tempo de refletir, esquecer preocupações laborais e respirarmos o ar puro das emoções que abrem o olhar a novos horizontes.
O tempo começa a aquecer e começamos a despirmo-nos, envergando trajes mais leves; é tempo de abandonarmos as cargas e o estresse do quotidiano, despindo-nos dos hábitos diários e olhar o que nos cerca sob um novo prisma.
É tempo de lazer, mas também de trabalho interno da nossa consciência; talvez a altura para refletirmos se caminhamos pelo caminho que escolhemos ou se nos encontramos num qualquer atalho à procura do verdadeiro caminho, da nossa via interior.
O tempo passa por nós ou somos nós que passamos por ele? É tempo de ter tempo para pensar um pouco sobre a velocidade que queremos (ou estamos a) imprimir à nossa vida mas, e essencialmente, vivermos o tempo que nos é dado, de modo a conseguirmos atingir a plenitude da existência neste tempo em que não há (parece não haver) tempo para nada.
É tempo de parar (e de retemperar)!

3.6.09

pur'acaso

Nos anos 80, aquando da minha primeira estadia pela LusAtenas, saía o livro de Gilbert Durant, «Mitolusismos» de Lima de Freitas, um ensaio bem ilustrado e ilustrativo sobre o pintor dos arquétipos nacionais que melhor soube plasmar, sob a forma de arte, as «imagens obsessoras» do nosso imaginário enquanto Nação.

Nessa altura «fixei» essa obra, costumando amiúde desfolhá-la (na livraria perto do local de trabalho) e contemplar as suas excecionais ilustrações. Por o dinheiro não «dar para tudo» o que se gosta e, também, por vezes (como foi o caso) termos de tomar decisões consoante as contingências dos momentos, «esqueci-me» do livro, embora a imagem da capa (e outras interiores) me surgisse – qual nemésis – de tempos a tempos como um aguilhão torturador...

Na segunda-feira 1 passei (rapidamente) pela Feira do Livro do Porto e veio-me à ideia (mais uma vez) a imagem/recordação viva de Mitolusismos, e tive o '(pre-)sentimento' de que o livro não andaria longe... Pus-me então a «bater» os alfarrabistas da Invicta até que, por fim (ou início), após vinte anos de «busca», ele lá estava à minha espera... como se ainda não tivesse saído da estante da livraria de Coimbra!

Perante a minha pergunta, o proprietário da livraria, já não com a acuidade mnemónica de outrora, «apenas» se lembrava ter de Mestre Lima de Freitas uma ilustração d'Os Lusíadas. No entanto, uma sua colega, mais «atenta», com a impressão de que «havia qualquer coisa», foi procurar e trouxe-me «o» exemplar, contando-me depois parte da história de como ele veio parar às minhas mãos. Contou ela que muito pouco tempo antes de a livraria o ter adquirido, alguém havia passado por lá à procura do livro, tendo sido por «acaso» que não o encontrou...

E foi assim que, passadas duas décadas, adquiri (finalmente) essa relíquia do genial artista (que não me saía da mente) e que uma espécie de intuição me «guiou» até ao sítio onde me «esperava»...

Ele há coisas!... que o acaso (não) consegue explicar!...

2.6.09

bragança – in memoriam

Em 1578 desaparece nas terras tórridas de Marrocos o jovem e impetuosos rei Sebastião, deixando a nação com a terrível questão da sucessão real em mãos. Dois anos depois, Portugal passa para domínio dos espanhóis, ficando sob a sua tutela durante cerca de sessenta anos.

Entretanto, pouco a pouco, surgia na alma do povo a vontade de se livrar do jugo do estrangeiro, tendo sido decisivo para o brotar desse sentimento umas trovas que um tal sapateiro Bandarra havia composto...

A consciência do povo foi alargando-se e quando tudo estava a postos, em 1640, o ocupante foi mandado para casa, subindo ao trono D. João IV, iniciador da Dinastia de Bragança. Embora já não tão brilhante como as dinastias anteriores, esta família conta com grandes inteletuais, artistas e humanistas, tendo tragicamente desaparecido recentemente, no oceano, um dos seus membros.

1.6.09

política mente falando

Numa época de subtilezas de linguagem e de hermenêutica dos discursos feita pelos média à medida das massas, mais do que nunca é preciso estar alerta contra a alienação que fazedores de opinião e jornalistas vão criando, para não nos deixarmos enganar, e centrar a nossa atenção no discurso político. Mas que discurso? — perguntais.

Pois, isso aí é que é o diabo! Os ataques interpartidários, principalmente na esfera «central», e o tom monocórdico de que ninguém tem propostas é arrepiante e lamentável. Mas as eleições não são para o Parlamento Europeu? Para a sacrossanta união, chamada UE, um dos elementos da tríade que galopa a passos largos para a formação do chamado Governo Mundial? Parece que não!... Parece que anda tudo perdido, sem saber o que seja – e qual a implicação – desse novo inimigo disfarçado de altruísta e de salvador do estado miserável a que chegou o Velho Continente!

Eu não sou a favor deste modelo social (e tão-pouco económico) para a Europa, mas já que se tem que gramar com eles (ganhe o A ou ganhe o B), então que se discuta o que cada um dos candidatos tem em mente («programa») para nos representar. A política interna deve estar sempre presente, certo, mas pelo menos que digam quais as propostas que têm para os diversos temas (emprego/desemprego, educação, saúde, etc.), e deixem-se de oaristos e arrufos que nada dignificam as suas posturas e que servem apenas para assobiar para o lado perante problemas tão sérios como a nossa própria identidade enquanto país livre e estado de direito (infelizmente com uma democracia que em nada o dignifica).

competição

A sociedade moderna e o seu instrumento para formação e educação dos seus consumidores, a escola (com o seu porta-voz, os média), centra-se na competição como ideologia para se ser bem sucedido na vida. Aparentemente, não há nenhum mal nisso, antes pelo contrário, se a competição for um meio para alcançar esse objetivo e não o fim em si mesmo.

No entanto, na realidade, o que acontece é que o discurso e a prática centram o seu alvo naquilo que é acessório, deixando, assim, de lado aquilo que deveria ser o essencial, seja, o desenvolvimento e a evolução pessoais.

Neste tempo presente, em que a maioria das pessoas anda à deriva, à procura de uma salvação qualquer que lhes permita deixar de trabalhar (como se isso fosse a grande libertação das amarras da vida, simples e sem-sabor, que quotidianamente levam, por julgarem que é com bens materiais que preenchem o seu vazio ontológico), ou uma maneira de irem, sempre cada vez mais, alcançando galardões que lhes possam preencher o desejo de ultrapassarem a sua mediania, aparecem, por todos os lados, estimulantes para essa forma de se sentirem «alguém» a quem se possa chamar um vencedor.

E é precisamente este espírito de competição que faz com que, por exemplo, a essência da prática das artes marciais tenha sido completamente relegada para segundo plano e as tenham tornado em simples formas desportivas – com direito a presença nos jogos olímpicos e tudo – onde o objetivo já não é a disciplina quotidiana de «vencer-se a si próprio», mas apenas demonstrar que se é melhor do que os outros, os adversários.

Estes sinais (preocupantes) dos tempos, chegam também (mais facilmente) a formas de exercício físico que procuram proporcionar o bem-estar psicossomático, como a ginástica de salão, por exemplo. O problema não é a competição em si (necessária para apurar os melhores em qualquer modalidade desportiva), mas sim o espírito com que os participantes entram nas competições (e no próprio exercício das suas práticas), pois aquilo que deveria estar em primeiro lugar era o aperfeiçoamento pessoal e não o espírito de «luta» contra adversários exteriores, como se estivéssemos perante uma batalha na qual é preciso «defender os títulos conquistados». Porque se há uma luta a travar para podermos vencer (na vida), essa luta tem que ser travada connosco próprios – a pacificação da mente –, antes de podermos competir para «vencer» os outros...